segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Yalla, yalla!

Tenho um problema recorrente: não consigo escrever sobre as coisas que me marcam demais. Poucas vezes escrevi sobre meus melhores amigos, e quando falo de relacionamentos, é mais ficção honesta que confessionário. Podia culpar a falta de tempo, mas não, foi exatamente por isso que ainda não consegui, e talvez ainda hoje não consiga, falar da minha viagem ao Marrocos. 

apanhei decorando esse alfabeto. mas vale a pena.
A medina de Fès, a maior do Marroco, é indescritível. É tão humana, caótica, com vias estreitas, caminhos que se confundem, pessoas que se confundem, cheiros que se confundem, mais gente, mais caos, mais vias, mais caos que se confundem.

Ela tem 400 e poucos hectares, ou talvez isso seja uma grande mentira, não lembro direito das dimensões que o guia disse, mas, vão por mim, a coisa é gigantesca e diferente de tudo que já se viu em matéria de redenção no domingo.

Saudades já.
 Depois de Fès, fomos pra Mèknes, a cidade inesperadamente linda. É onde há a única mesquita aberta ao público não-muçulmano, e o lugar é lindo e pacífico, vontade de ficar lá o dia inteiro. Sério, todas as pessoas que gritam contra a construção de mesquitas deveriam visitá-la. Quase quero uma na minha casa.

Na verdade, estávamos por Mèknes somente de passagem, queríamos chegar a Volubilis, uma cidadezinha onde há ruínas romanas. Mas fato é que Mèknes nos coaptou. Passamos o dia, sem notá-lo, por lá, e teríamos passado mais um, se não tivéssemos reunião pra decidir se passaríamos ou não três dias viajando pelo deserto.

Kazbah do séc. VII.
 Já é óbvio, até porque já contei pra cada um de vocês, que fomos. Fomos com Bakkali, o melhor guia do mundo. Um berbéri querido, atencioso e engraçado, que parou no meio da estrada pra colher tâmaras pra nós, porque horas antes a Fran tinha comentado que as adorava.


o sol estava quente e queimou a nossa cara. Alalaô.
 Andar de camelo sob o céu do Saara foi tão incrível que usar a palavra "incrível' para descrevê-lo é absurdamente ridículo. Não vou fazê-lo. Imaginem o céu mais estrelado que vocês possam. 

Erraram feio. É bem mais.

the monkey on your back is the latest trend

Aqui foi o primeiro lugar onde paramos, e no Marrocos até os macacos tentam te passar a perna, são muito mais espertos que os esquilos londrinos, que conseguimos enganar fingindo ter comida. Os macacos marroquinos, nada.

Prometi pro Bakkali que serei a primeira taxista mulher do Marrocos.
 Mais esperta que macacos marroquinos, no entanto, tomei o volante para me tornar a primeira taxista mulher do Marrocos, para as gargalhadas do Bakkali e o terror do Cássio e da Fran, que não queriam nunca que eu aumentasse a velocidade.

Opressor é o vento, não o véu.
 Sério, pessoalzim, véu é super cool. Juro que acho mil vezes pior colocar um biquíni que um véu. Não sei qual dos dois é mais opressor. Pros meus XXXXXX quilos, fico com o véu. Assim, ao estilo berbéri.

Sim, abusei do véu. Queria entendê-lo.
 Ou assim, também. Sério, fui mais respeitada de véu, as pessoas vinham falar comigo em árabe e quando eu dizia um "Là!" (não) firme, os vendedores/mendigos se afastavam, o que não acontecia sem o véu. Além disso, ele protege mesmo do sol, e esse, que eu comprei em uma cooperativa e foi feito artenasalmente, convenhamos, é muito gats.

OCIDENTAIS MALDITOS NÃO TIREM FOTOS DA GENTE.
Viajei por quatro horas e quatro séculos de distância até o Marrocos, sem contar Marrakesh. E a experiência foi ótima, como o chá de menta, obscenamente doce, ainda assim, por vezes amargo. Um chá que muda conforme mudam as paisagens do Marrocos, e eles mudam bastante.

Marrocos é um país cheio de temperos. Cheio de areia, cheio de oásis. Eu me tornei mais um de seus grãos.


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