segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Bretanha!

à ceux que l´eternité seule unit.
Tristão & Isolda

oi

resquicios célticos e gauleses

pós-moderna

por aí

Rennes centreville

O bretão!

Sexy

sábado, 28 de agosto de 2010

Pompidou.




Curtindo as Guerrila Girls no Pompidou. Fantástico.


A não ser que tu seja a Frida.


Poutz, Degas e Toulouse-Latrec decorando minhas paredes bretãs = sou uma machista louca.


Feminism is so hot.


Too hairy.

Adieu, Paris.



Encontro teu rosto. Mesmo depois do existencialismo, ainda é em Paris que me sinto bem. Tu faz um ruído bonitinho e me aproximo, entrelaçada nas tuas histórias. Sorrio. Tu sempre quer saber por que sorrio. É por tua causa, mas não me atrevo à honestidade. É cedo. Ou tarde, sempre a perspectiva. Levanto num salto.

Tento me vestir sem sequer te olhar de longe, mas é incontrolável. Como dançasse pela cama, teu corpo em sinfonia, tão perto. Tão perto a distância. Mas agora e ainda tão próximo. Então abraço. Tu me puxa para junto de ti. Viro o rosto. Não vai me ver chorar.

La Tour Eiffel - Robert Delaunay
São apenas duas lágrimas. Duas pessoas que se desencontram novamente: nada mais banal. Mas, entenda, deixar Paris é uma das batalhas mais difíceis que há. Deixar uma Paris que te leva no colo torna a tarefa impossível. “Ill see you soon”, tu me diz, e na minha língua colada mil vezes a pergunta “you promise?”, mas não lhe deixo escapar. Tu ainda não me sabe assim frágil. Assim encantada com teu pescoço. “That´s good”. (Queria ter tido uma resposta mais espirituosa, mas só não chorar tomou tudo de mim).

Sempre chove quando a gente se despede, mas não vou te falar disso. (Talvez um pouco de medo de não o teres percebido – por quantas metáforas ainda passaremos?). “Please, don´t explode in Lebanon.” Tu sorri e me deseja uma boa semana de freshman. Sorrimos. “Ill see you soon.” Por favor, prometa. Por favor, me prometa vir, ainda que eu não peça. (E eu jamais pediria). Mas isso não é motivo para que não o faça. Ainda que tu não vá. Até melhor, a promessa durará mais se não for cumprida. E com ela a tua espera.

“Saying goodbye to you at the metrô – I remember that”, te digo. Tu me beija e sentencia “yes, we´re travelers.” E por fim sei que também sabe. Que no fundo é tão amaldiçoado quanto eu, colecionador de despedidas. Movimentando-se para não se perceber vazio, sentindo tontura para sentir alguma coisa; ser chama e inalcançável pelo tempo. Viver não aceita disfarces. A busca reiterada e impossível por algo que te faça jamais sair de lugar algum – e viajar é o único modo de encontrá-lo. (Ainda que o perceba inexistente). Não posso te oferecer raízes. Somos apenas folhas. E é sempre vento na Bretanha.

Foi na estação de trem que senti teu cheiro na minha roupa. Como de propósito, um punhal nos meus sentidos. Teu cheiro invadindo minhas saudades. E então me lembrei da tua voz, teu rosto inclinado junto ao meu, cantando Gonzaguinha, “é a vida, é bonita, é bonita e é bonita”. Um leve sotaque parisiense temperando a música. Brasil e França em desalinho nos teus lábios. Cantarolo junto, minha mão enroscada na tua. Tu acende um cigarro enquanto exploro cada parte dos teus dedos. Mais uma vez, pegamos o metrô. Sentamos ladoalado, assim mesmo, sem espaços possíveis entre as coxas. Segura meu rosto e abreviamos nossa conversa. Eu e minhas alegrias em uníssono na tua boca.

Tu me ensinou a fazer café, sem supor o quão chato seria tomá-lo longe de ti, a ponto de eu não fazê-lo. Riu da minha angústia frente às inépcias todas (e tantas) minhas. Tem outras tantas coisas em que eu sou boa, mas dessas não quis te falar. Preciso estar segura, quando não vieres, de que havia motivos para que não o fizesse. Ainda assim, guardo tua letra atrás de uma receita de crepes. É o mais perto que cheguei de te fotografar. Como poderia tirar uma foto contigo? Tu é vivo demais. Tu é contingente demais para posar estático ao meu lado pelo tempo infinito das imagens. Não seria possível. Mas já agora, logo mais no trem, a duas horas de Rennes, me arrependo. Teu rosto será total dependente da minha memória.
Eu também.

 Fecho os olhos enquanto o trem parte e tu chega novamente de Londres. Uma reprodução de Degas na mão para me dar. A mulher se secando após o banho, como tu me viu fazer por dez dias de vezes. Tornando teus braços toalhas, meu corpo brinquedo. Meus olhos como crianças no balanço, as pernas embalando o vento. As mesmas pernas que agora tremem, que agora caminham para longe, ainda que o coração, mas o coração é inamovível. Deixo-o ficar onde deseja, ainda que eu parta e, nisso, seja partida.

Eu, viajante pelo teu corpo, andarilha da tua casa. Tu, flâneur das minhas manhãs. Tento não pensar que talvez, se eu ficasse em Paris, mas não. Não vou ficar em Paris. Ela já está a uma hora de distância, e tu está a caminho do Líbano agora. Me dói por inteiro. Mas não faz mal.

Ill see you soon.

domingo, 22 de agosto de 2010

Uma idade.

A Idade Madura, Camille Claudel.

Camille explode angústias. As esculturas dela são parte do que mais me comoveu em matéria de arte em Paris.

Talvez porque goste da ideia obsoleta de enlouquecer por causa de alguma coisa, seja por amor, seja por um ideal, seja por uma coleção de selos.

O ser humano é grande quando abre mão da própria lucidez em prol de uma paixão.

Não é algo que eu provavelmente faria. Não é algo que nós, habitantes da modernidade líquida, faríamos, e por isso é tão bonito.

A arte de Claudel incandesce; acesa, apaga algo que toca fundo, de repente sentir são sombras. Sentir agonia. Provoca sensações frias, com o lirismo do sangue derramado. Dói por ser humano. Por sermos capazes disso.

sábado, 21 de agosto de 2010

a mesma língua.

Uns tantos idiomas
quatro cinco
(que grande incompreensão
duas pessoas em uma língua só).

peço para repetir a frase
repetir o gesto
repetir a gosto
me abraça e nada foi jamais tão claro:
teu peito,
dicionário bilíngue.

a pele é sábia
o que há a ser dito
veio de nascença na carne.

aponta constelações
que jamais vi.
na tua boca
vive muito do que desconheço.

trago cachaça
que refuto para o teu espanto
não é meu lado russo
é minha contradição latina

pergunto tudo que toco
à exaustão
tocas tudo que sou
à exaustão

ao contrário
te aproximas sem pudor
dispensa no primeiro sorriso
o detalhe
de que o tempo passou.

não sei como te cumprimentar.
esgota todas as possibilidades.
meu lábio tremula
contra o teu.

(o corpo jamais precisa
de repetição)

entende tudo de primeira
entende tudo de ouvido
de braços
de pernas
de pescoço
e se ainda assim repete
é porque pouco importam

os quatro
os cinco
idiomas em que a gente se encontra.

se perder um no outro
é como a gente melhor se entende.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Paris, uma festa. Desde que não haja malas.

água, museu, pirâmide
Então que dizer que Paris é linda é dizer o óbvio. Elogiar Paris à exaustão é fazer o óbvio. E Paris não é nada óbvia. Nada daquela obviedade barata de luzes e cartazes. Pontes. Pontes grandes e largas, em contraposição à estreiteza das ruas. A travessia, o outro lado sendo muito mais importante que o andar reto pela calçada. 

Pont des Arts
Hoje fui a muitos outros lados. Paris são todos e múltiplos lados. Eu é que sempre fui lado nenhum, e agora tantos. Lados intercontinentais, que bonito isso, hipérbole para dizer o óbvio - não se pode ser inteiro pela metade. Mas Paris não é óbvia. Eu é que sou.

Mais calçada que ponte, sigo adiante. Algumas fotos, algumas frases, muitas saudades. E por ser óbvia, obviedades: 

Não sei a razão dos cadeados.
Paris é linda. Paris é grande e ainda assim não sei se caibo nela. (Ao menos não às seis horas no metrô). Paris é alta, Paris é subterrânea. Paris é poesia e paredes pichadas. Lirismo aos borbotões. Paris é romântica, Paris é nojenta com seus homens sexistas e premissas sexuais. Paris é cosmopolita em todas as roupas e cores; Paris é provinciana com seus horários comerciais apertados. Paris é Torre Eiffel brilhando, Paris é parque de diversões falido nas Tuilleries; é um museu magnífíco que fecha às seis da tarde.


Elogio, elogio e, em sendo óbvia, não pertenço a Paris. 
Que ao menos ela me pertença um por uns dias, então.