quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Au quotidien.

Nunca me senti tão próxima do Chico. Somos eu e ele, todos os dias. Espero impaciente que seja noite no Brasil. Ela não aparece. No meu país é sempre manhã. São cinco horas de diferença, vinte e um ano de semelhanças. Não quero fazer soar tal exílio meu intercâmbio seis vezes sonhado. Algumas distâncias não precisam de quilômetros para se firmarem. 

Só que me reverberam por inteiro as vozes que eu não ouço, as conversas que não estou tendo no bar da cidade baixa onde não estou indo. Explico que Porto Alegre é a cidade do Fórum Social Mundial, o Fórum feito em contraposição ao de Davos. Um outro mundo é possível. Mas me sinto plástico. Me sinto rasa. Porto Alegre, para mim, não tem nada a ver com o Fórum. Ou ao menos não tanto como ela tem a ver com o Bom Fim e eu e o Igor indo ao Zaffari decidir o que cozinhar, ou estar no Felipe sendo convencida a ir pra buatchy, ou fazendo negrinho péssimo e ligando pro Gauti chegar logo, pelamordedeus.

Porto Alegre é uma casa no alto do Cristal, é ligar pra Tephy pra gente decidir juntas só ir amanhã na academia. É ir no bar das lébskas pra continuar nosso seriado, é gif de relacionamentos abertos, é o Planalto lá na distante Zona Norte, na mesma rua que a Stock, e ir junto com ela uma vez por semana pra UFRGS, mais por afeto que por praticidade. 

Porto Alegre é comprar colchão com o Guilherme, fazer festa junina com a Cassi, a Clá, a Carol, a Nanda, o Bruno e sempre sentir falta da Aline. É a Cultura cheia de livros lindos que não posso comprar, é ir ao cinema na sessão louca das mães, é encontrar tudo que não estou procurando no centro lotado, pra depois entrar no café do Mário Quintana, no café do Margs, no Café do Cofre - não achei nenhum café melhor em Paris, garanto. 

É ir em sebos com a Jubão, em palestras de arquitetos que curtem uma graninha, é meu pai sempre querendo que ela estagie com ele. Porto Alegre é chegar em casa à noite e sentir o cheiro bom (falta maluca!) da comida feita em casa do pai, é ouvir a mãe falar sobre tudo e sobre nada e procurar meus gatos, é reclamar que a Gabi tá assistindo Smalville DE NOVO na sala, porra, como é que pode? (E depois assistir junto e ficar perguntando incessantemente sobre tudo).

É a vó juntando dinheiro pra vim me visitar, lindérrima e gauchista, rindo de quando o vô, gaúcho típico, atirou pela janela o quadro dela do Che, "quadro de homem em casa, só o meu". A vó reclamando e atiçando meu feminismo - "que merda, Lê, eu também queria fazer ter feito isso, mas na minha época eu era um grande hímen - que coisa mais estúpida!" A mesma vó que me disse, com algumas lágrimas mal-disfarçadas, "Lê, tu tem que transar com todo mundo em Paris! Tu só é jovem uma vez!" e eu embaraçada na frente da família, clima super casar virgem e bons costumes.

Agora sou só eu na frente do meu embaraço. Embaraço sem plateia - e que desconhecidos não são plateia cativa, não vale a pena. Então converso com o Chico, com o Ney, com a Nara, com Caetano. E estou longe de casa ainda, mas tenho um pouco de música. Tenho muito de vocês.

3 comentários:

  1. Te garanto que Porto Alegre é menos Porto Alegre sem a tua presença.

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  2. Porto Alegre é pensar em convidar a Leti pra tomar clericot no Dometila, e lembrar que ela agora está na França super chique e vai aproveitar demais! OUI, OUI!

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  3. Eu sinto tanta saudade de irmos juntas para a Reitoria! Te amo tanto minha linda!

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